Saudades de São João Del Rei


Quando jovem, sempre pensei que jamais deixaria de ir a São João Del Rei. Como eu amava aquela cidade. Era começar as férias escolares e lá estava eu, de malinha, descendo na rodoviária e indo em direção à casa da minha avó.

Eram férias mágicas, juntos, tios, primos, e a casa pulsava, sim a casa pulsa, tem vida. A cada manhã uma nova expectativa de como seria aquele dia, clube, brincadeiras, picolés na varanda, passeios. E as férias passavam tão rápidas!

Com o tempo além da família fui desenvolvendo um grande laço de amizades na cidade. Veio à adolescência e com elas as namoradinhas nas férias, nadar nas cachoeiras, bailes, festas, Kibon (apelido de uma rua onde todos ficavam à noite na cidade).

Carnaval era um capitulo a parte. Impossível imaginar não passar esta festa em São João Del Rei. O melhor carnaval do interior de Minas Gerais. Varias gerações da família se encontravam na casa, quartos cheios, sala com colchões espalhados. À noite os mais velhos saiam para assistir aos desfiles, os adolescentes saiam juntos para os bailes e os mais novos começavam sua trajetória na festa desfilando na avenida nas escolas de samba.

O tempo continua a passar, nós, os netos, casando, vindo os filhos e a família aumentando. Mas lá estava à casa da avó, sempre acolhendo e por incrível que pareça, acomodando a todos. Em 1986 nossa avozinha querida nos deixou. Foi descansar, mas ao mesmo tempo tivemos a graça de nosso avô querido viver ate os seus 103 anos, lúcido, sem trocar o nome de nenhum bisneto. Engraçado, não me lembro do meu avô doente, nem ao menos gripado nesses anos todos.

Com a falta de referencia dos avos a família resolveu vender a nossa querida, acolhedora e amiga casa de São João. Isso foi à uns quatro anos atrás. São tantos momentos, lembranças e porque não dizer, que deixamos um pedaço nosso dentro dela. Cada pedaçinho, metro quadrado daquela casa tem uma historia para contar.

Este final de semana, eu retornei a cidade com as minhas filhas para passar o dia. Engraçado, não amava mais aquela cidade como eu pensava. Eu me senti um turista, e senti também que nossa querida casa estava reformada, bonita, mas também estava triste. Foi como se ela dissesse, “Ei que saudades de vocês, como estão todos?”, e foi ai que descobri que não era um sentimento só à cidade. Era todo um contexto. Era um amor imenso pelos avos, tios e primos, e é claro a casa que nos abrigava. Encontros que nunca deixaram de estar presente na minha memória. Uma dor também por ter a consciência que nunca mais irá acontecer, não nessa vida. Acho até que inconscientemente eu prorroguei esse reencontro com São João. Para nós, lá não é a terra de Tancredo Neves e sim do Vô Joaquim, da Vó Vinda, da tia Marizinha, tia Célia, Tia Milot, do tio Diquinho, dos primos queridos. Tirando isso da cidade, é apenas mais uma.

Enfim, fica aqui uma grande saudade desses tempos que não voltarão mais.

Comentários

  1. É Celso, seja sempre bem vindo à São João del-Rei. Gostei do seu texto.

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  2. CELSINHO ADOREI O Q VC ESCREVEU SOBRE A NOSSA CIDADE. FOI UM TEMPO MUITO FELIZ! Beijos Marisa.

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  3. Celso,

    São João é sutil. Faz a gente sentir saudade é da gente mesmo, do que de nós existiu (e na nossa lembrança ainda existe!) naquela cidade que "tirando isso é apenas mais uma".

    Quando quiser revirar um bau de lembranças, acesse http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com/. Muito provavelmente você encontrará coisas de um tempo que para nós é tão precioso.

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